RUAS SEM BURGOS ERAM SÓ DE SILÊNCIO
Resolvi andar em ruas sem burgos,
Quando vi um arraial já desnudo,
E bem longe da São Petersburgo,
Haviam estepes e o fim do mundo.
Era frio e não tinha a vida animal,
Pelo menos que ouvisse o lobo uivar,
Mas também já não era a zona abissal,
Pois naquela altura fui longe do mar.
Eram dias de outono diante do inverno,
Que me davam saudades de cada verão,
Pois o frio inclemente seria inferno,
Quando a primavera me diz: Não é não!
Mas naquele momento não tinha abelhas,
Muito menos vi cabras e o velho pastor,
Pois se foi o deserto de areia nas telhas,
E me resta a saudade de flor e calor.
Por isso meu sonho varou madrugada,
Com o meu corpo inerte sob a geleira,
Mas eu fui magneto e liguei a fornalha,
Pois meu coração quer a luz verdadeira.
E fiquei no aguardo do meu astro rei,
Que de longe trazia mais cem meteoros,
Num feixe de luz do cometa que achei,
Vagando no abismo tão longe de Órion.
Eram só de silêncio os toques do som,
Como as rochas caladas pela surdez,
Mas o meu navegar era de anjo bom,
Com o barco singrando além de Suez.