QUERER SÓ A PAZ
Até mesmo a cobra quer a paz,
Quando o leão dormia no brega,
E se ela não vê frente e trás,
É porque nosso cheiro entrega.
Nós sabemos que a fome é regra,
E por isso o leão come a gazela,
Mas não é essa a nossa refrega,
Porque a vida não é uma mazela.
Viver é bem mais que mistério,
Mas não sei o porquê é na Terra,
Se podia ser noutro minério,
Como forma de paz ou de guerra.
Quem quer vida planta e cria,
E mantém condições para viver,
Não sujando os rios da bacia,
Nem salgando o chão que tiver.
Tudo aqui só pertence ao divino,
Porque somente Ele é eterno,
Quando morremos velho ou menino,
E vivemos para ser só um aderno.
Mesmo a árvore que seja longeva,
Ora um baobá, sequóia ou carvalho,
Um dia elas se despedem da selva,
Pois o mundo é continuo trabalho.
Tudo é busca e há cartas de tarô,
Como há templos e grutas de reza,
E assim tudo é regra ou complô,
Nos meandros de Orion ou Vega.
Hoje eu sei que estrela é fornalha,
Mesmo assim eu queria estar nela,
Porque sei quando o isqueiro falha,
Desde quando o gás não tem vela.
Lá no cosmo vou querer só a paz,
Mesmo com os meteoros a passar,
Se aqui temos capitão e capataz,
Torturando quem só quer passear.