O VENTO QUE SELA
Cumprir o dever mais humano,
Requer abrir mão de ser dono,
E ver que sou parte do plano,
Ou ser bem mais que carbono.
Tudo que gravita é mistério,
Se há imã e a luz é energia,
Mas é quando o caso é sério,
No conflito de ódio e alegria.
Somos todos carentes sozinhos,
Fomos tudo nas guerras sem pé,
Mas é onde eu vejo os caminhos,
Que me levam a ser mesmo José.
Ter o exemplo do bom carpinteiro,
Ou também de um Batista profético,
Só nos faz ser fiel conselheiro,
Ou um cisne, por ser tão poético.
E por tudo, não me faça de joio,
Nem me plante na dor da urtiga,
Mas se encante com o meu aboio,
E se deixe guiar pela cantiga.
Todo canto dos anjos celestes,
São carícias das luzes do éden,
Como as tardes sob os ciprestes,
Trazem sonhos que nada impedem.
Só no meio dessa caminhada,
Sob o vento que sela os passos,
É que vejo a areia da praia,
Ebulindo o suor em meus cachos.
Meu riacho à procura por mar,
Logo corre afrontando declives,
Mesmo quando uma montanha está,
Como gema na mão de um ourives.
Lapidando as jóias eu irei,
Como um verbo pela poesia,
Mas sujeito a tudo que sei,
Que até pode ser heresia.