ENQUANTO SE AMARGA A FOME
Profundo seria apenas o mar,
Mas agora nós temos internet,
E está de fora o verbo amar,
Com os bandidos e suas tietes.
A sociedade se engana no paralelo,
Pois agora quer ser o universo,
Mas o poeta nem está no prelo,
Ou a insanidade é só um complexo.
Tudo agora já não me diverte,
Porque ninguém quer a verdade,
Quando me falta só um alcaguete,
Que dê sentença à vã mocidade.
Hoje os hereges estão no templo,
Vendendo suas almas com escárnio,
Pautando costumes ou o desalento,
E agindo como loucos templários.
Em tudo se vê batalha e hipocrisia,
Depois dos batismos oportunistas,
E a fé se conflita na eucaristia,
Ou em casuísmos com os novelistas.
Falam muito nos tempos de outrora,
Mas nem sabem quem foram os avós,
Louvam a Cristo da boca pra fora,
Se o ouro corrompe em barra e pó.
Eu gostaria de ver alguém justo,
Nos caminhos revoltos do querer,
Mas essa esperança tem um custo,
Pois é caro ver alguém merecer.
Há quem ache algo de meritório,
Para dar razão às promoções,
Mas vestem fardas com supositório,
E sujam os vasos sem a digestão.
Plantam apenas para gerar lucro,
Enquanto o povo amarga a fome,
Criam as reses, matando o matuto,
Dosam o veneno que outro consome.