VOTO PRA VOLTAR A TER
Estive sentado lá no Coliseum,
E era Calígula querendo o sim,
Com dedos pra baixo pelo adeus,
Querendo o sangue do nosso fim.
Eu digo que esse fim será nosso,
Pois faço parte dos escravizados,
E Roma roubou do Egito a Cnossos,
E se lambuzou com os crucificados.
Mas veio as mandingas de Napoleão,
Dizendo que Europa não viu a Zeus,
E até Dom João fugiu do dragão,
Dando honras ao inglês fariseu.
Foi dessas contendas que vi o Brasil,
De brasilianos e não de lenhadores,
Forjado do sangue de um preto servil,
Que nunca viveu da fé dos senhores.
Os índios aqui não tiveram escolhas,
Morrendo de gripe, no tronco e na lama,
Pois não quis ouro e vivia das folhas,
Se a fome requer paz com a sussuarana.
Nos tempos antigos o líder é um pai,
Que guarda seu povo e a toda família,
Mas hoje o destino é um raio que cai,
E, quando já vimos, esgotou a pilha.
Eu hoje já voto, pois não é reinado,
Mas a democracia sucumbe ou agoniza,
Se a loba fascista nos quer condenado,
E o cio da besta só nos inferniza.
Pensei que a tortura iria acabar,
Mas vejo louvarem Stroessner e Ustra,
E é tão recorrente o suplício no lar,
Pois sobra a fome, que a vida ilustra.
Meu voto ainda quer paz e comida,
Desde que a miséria domina o país,
Onde a escola viu cupim e lombriga,
Mas os ricos querem ouro e perdiz.
Rico come picanha de boi maturado,
E se encharca de uísque e vinho,
Come até a carne do índio esganado,
Se é imbrochável e até um espinho.
Então voto pra ver o despacho,
Da encomenda que mando ao diabo,
Mesmo sem que ele goste, eu acho,
Pois no meu caruru tem carinho.
Vou voltar a ter bons democratas,
Pois já chega de maldade nazista,
Se há trastes que defloram beatas,
Mas não dizem que são terroristas.