SORTE OU ESPERANÇA
Debaixo de uma grande copa,
Ou sob os galhos mais fortes,
Armei um balanço que troça,
Do vento que dita as sortes.
Ali também sento e respiro,
Descanso e medito por paz,
Mas ouço a estória do grilo,
Que atrita as pernas detrás.
As aves à noite descansam,
Mas logo o sol vem de novo,
Depois que as noites cansam,
De só pajear quem é lobo.
Esse lobo se vira uivando,
Enquanto as corujas meneiam,
E os olhos vão prescrutando,
Os ratos que tanto passeiam.
Todavia, de manhã vem o galo,
E todos acordam ou madrugam,
Mas leite só temos do gado,
Se as cabras não me ajudam.
Foi numa caatinga sem água,
Sem fonte ou mesmo um açude,
Que tudo me lembra a estrada,
E um vento que cobra atitude.
Meu semblante se revigora,
Se houver o carinho e amor.
Mas só um baobá tem a hora,
Pois previu cada vida e flor.
Nossa história no mundo é vaga,
Quando não guardamos memórias,
E por isso a moral se estraga,
Se sonhamos apenas com glórias.
Nessa vida o amor quer espaço,
Pois o ódio corrompe e depõe,
E a ganância é regua e traço,
De quem nunca se viu como mãe.
Somos mamíferos e leite é colo,
E crescemos se houver segurança,
Pois nascemos inertes pro solo,
Mas podemos ser toda esperança.