FORA DO HABITAT
Se um boto rosa nadasse ao ermo,
E saísse do seu habitat amazônico,
Eu fico a imaginar qual o termo,
Que fosse assinar sem o ozônio.
Se ele viesse nadar no rio Tietê,
Em meios às fábricas de poluição,
Será que teria seu próprio bebê,
Ou só geraria uma triste canção?
Eu só imagino um canto funesto,
Que o boto entoava no meio da lama,
Enquanto agonizam, ele e o resto,
Pois é escroto esse tipo de cama.
Mas o boto não está sozinho,
Nesse sofrimento capitalista,
Onde tudo é sem mais carinho,
Pois só presta o seu avalista.
Tem também as focas e as baleias,
Ou o leão marinho e o siri mole,
Mas eles definham em suas cadeias,
Enquanto as chaves o ouro engole.
Nem posso acender a vela pro santo,
Com medo de que incendeie o resto,
Pois já devastaram até o meu campo,
Mas juro que pago o meu empréstimo.
Vivemos somente na vil servidão,
Pois há o capital causando o luto,
E diz: "Comunista!", à fome de pão,
Com mão de ferro e luva de veludo.