SEDUZIDO PELA LIBERDADE
Certa vez eu sonhava de dia,
E alguém me falava de sorte,
Que talvez fosse estar na baía,
Onde o mar acercou-se do forte.
A vantagem de rever a Bahia,
Com a baía de todos os santos,
É comer o acarajé que ardia,
Na alegria dos seus encantos.
A coragem de andar na Bahia,
É bater pawó para os santos,
E lembrar que preto é agonia,
De um navio cheio de bantos.
Quem ali chegou em um passado,
Veio abaixo da primeira classe,
E aportou com o corpo ferrado,
Jogador sem direito ao passe.
Como escravo, só viu a penumbra,
Mas um rei não baixa a guarda,
E no açoite através do kalunga,
Se refaz no orixá que aguarda.
E hoje, depois de muito sofrer,
Se vê seduzido pela liberdade,
Pois a vida e a fé quer vencer,
Mesmo quando o amor é saudade.