APESAR DO GUARÁ ENXERIDO
Apesar de viver tão uniforme,
A mente borbulha como nebulosa,
Forjando de uma poeira disforme,
Aquela que hoje é minha prosa.
Se agora eu me encontro aqui,
Não é por acaso, mas da viagem,
Que fiz pela luz do meu oriki,
Buscando em portais a passagem.
Por esse motivo e causa astral,
Renovo o ser nesse modo corpóreo,
Enquanto preparo um novo edital,
Para o contato na nuvem de Órion.
Mas nesse templo ou no temporal,
Eu gasto um momento com a terra,
Arando e plantando, longe de Aral,
Cada melancia que me desterra.
Mas, apesar do guará enxerido,
Perdurei a plantar as melancias,
Porque aceitei ter fruto ferido,
Para manter a natureza sadia.
Eu quero que o mundo entenda,
O que nosso algoz não aquiesce,
Pois só vê o mal da contenda,
Sem saber o porquê se padece.
As dores de um corpo são próprias,
E não podem ser sentidas no outro,
A não ser que estejam às portas,
De um indigesto animal misantropo.
Mas, enfim, já não planto nem colho,
Pois roubaram a mangueira e o motor,
Por descuido ou pimenta no molho,
Quando a justiça se fez lenhador.
E assim, já não temos florestas,
Mas o pasto só espalha o deserto,
Plantando o ódio que tudo engessa,
Como nos cultos ao mal manifesto.