A BALANÇA PRA QUEM NÃO TERÁ AMANHÃ
Em tempos de razão ou de lógica,
Onde os loucos vendem fantasias,
O descrer me requer alma pródiga,
Quando não vejo mais sintonias.
Crer em Deus sempre foi algo sério,
Só que hoje há deboches de Deus,
E se vestem com véus do sinédrio,
A lembrar quem não sabe o que leu.
Todo escrito do mundo é mundano,
Porque todo divino é mistério,
E quem acha que sabe é insano,
Ou não sabe o que seja sério.
Reunir o pensar de um povo,
Tudo posto em folhas de livro,
Faz lembrar o mistério de novo,
Porque Deus não me diz o que digo.
Minha fala só clama recortes,
De tudo que vejo ou que sinto,
Pois sei que talvez não suporte,
Saber da verdade se eu minto.
Mas um dia verei uma balança,
Que está posta diante da vida,
A dizer quanto pesa ou cansa,
Cada ar de suspiro ou fadiga.
Pois andei em desertos e praças,
Mas também vi cair nas ladeiras,
Quem se acha tão cheio de graças,
Mas a graça é o sangue nas veias.
E assim, vivo a vida em um dia,
Pois é isso que basta e tenho,
Se de ontem nem sobrou fantasia,
E o amanhã só em sonhos eu venho.
De outro lado, Deus sabe de tudo,
Porque dele é o ontem e o amanhã,
Pois nos deixa o hoje pra o susto,
De quem não terá uma outra manhã.