TUDO QUE TEMOS
São tantas as pedras no caminho,
Que escuto a inveja me desejar,
Porque hienas não vestem linho,
Mas logo reclamam se eu usar.
No meu passado, distante do mar,
Eu vestia branco pelos costumes,
Sem reclamar que pudesse sujar,
Pois pelos campos há o estrume.
E foi assim, criando meu gado,
Com as galinhas, perus e porcos,
Tendo a varanda, com um sobrado,
Tomando um chá, como um louco.
Me agradava ver o por-do-sol,
E os passarinhos se aconchegando,
Para ter a noite como um farol,
Se a lua cheia fosse brilhando.
E balançava o corpo na rede,
Com um charuto daquele cubano,
Se foi Tarcísio que lá esteve,
Para estudar por muitos anos.
Tudo que temos é o nosso lar,
Porque a Terra me quer feliz,
Enquanto eu for como seu par,
Sem precisar de ser meretriz.
Só não é digno vender a terra,
Porque ela nunca nos pertenceu,
Já que se nasce graças à terra,
Que nos devora, até sendo ateu.
A paciência de Deus é o tempo,
Pois a energia estará no eterno,
Desde que ele me fala ao vento,
Ou eu também só uso o caderno.
Nesse caderno eu teimo a pensar,
Porque se falar, ninguém mais fala,
Pois as palavras só vão ecoar,
Se registrar o que nunca se cala.