DE CINCO EM CINCO
Quando as mãos se convergem,
Logo ocorre a soma dos dedos,
Como um colo que se reveste,
De perfume e cura dos medos.
Mas a conta que se cobra,
Pode ser de cinco em cinco,
Desde quando nada é sobra,
Pois é no que eu acredito.
Hoje estamos em campanha,
E o povo quer ser pauta,
Como um urso quer a banha,
Para viver durante a falta.
Tão cheio de gente é o Brasil,
Mesmo abaixo de Índia e China,
Mas só tem água pra um cantil,
Porque essa fome não termina.
Enquanto o campo for pra fora,
Só produzindo para os outros,
Cada recanto só vê a pistola,
Com violência e lares mortos.
Será que é isso que mereço,
Vendo meu país à bancarrota,
Sem ter comida, afora o preço,
Estando esquálido e sem roupa?
Será mesmo que só há bandido,
Se houve Robin Hood e Lampião,
E por causa de termos sofrido,
Repenso o cangaço e a razão?
Só assim, conclamo os nobres,
A se apiedarem dos que padecem,
E olharem seus bens e cofres,
Desde o quanto lhes apetecem.
Pois ter água que não vai beber,
Ou guardar o que não vai usar,
Será como viver sem nunca saber,
O porque há desertos ou o mar.
E enquanto há cinco continentes,
Eu vou reunindo os cinco sentidos,
Para ver se amparo os indigentes,
Ou se aplaco a dor dos oprimidos.
Tudo hoje é fácil ou possível,
Mas também nos faz sem o prumo,
Pois não há um rumo ou nível,
Que equilibre o lato e o uno.