OS DIAS COM NOME
Chamam de sexta-feira, e porquê?
E qual é o dia sem haver o sol?
Mas enquanto me vissem em você,
O que me diriam, estando tão só?
Assim é nosso lar e universo,
Tão cheio de corpos e marcos,
Sem eco, a declamar um verso,
Porque as esquinas nem acho.
Fizeram os dias e ciclos com nome,
Mas se esqueceram de me perguntar,
Se eu concordava ser cria do homem,
Como toda fome a querer o jantar.
Há mais calendários que história,
Como há defuntos que nem viveram,
Pois alguns vêm cheios de glória,
E logo retornam pra onde vieram.
Temos anos para chinês e judeu,
Mas esquecemos do tempo asteca,
Pois para alguém o tempo não deu,
Ou os destinos são Roma e Meca.
Não mais respeitam uma só etnia,
Pois acham que não há melanina,
Deus fez a terra com noite e dia,
Mas também fez deserto e o clima.
Nós não nascemos de um só útero,
Como ainda querem achar o graal,
Nem é preciso ter o ouro adúltero,
Nas agonias de ser pedra de sal.
Nos alegremos de viver o momento,
Se não há tempo para voltar atrás,
E a fila desse mundo é o tormento,
Como alento de viver quando faz.
Apenas digo que quero plena vida,
E por isso eu prezo ter cada nicho,
E dou o respeito à flor que convida,
Curtindo abelhas e todos os bichos.
Os povos antigos olhavam pra lua,
Contando as vezes dela ser cheia,
E não importava dar nome à rua,
Mas por se acordar ou ter a ceia.
Hoje importa dar regras aos dias,
Enquanto esquecemos de estar vivos,
Acordando só pra querer alegrias,
Sem perceber que dores são avisos.