NEM SEMPRE SEREMOS FELIZES
Subir numa escapa tão íngreme,
Pensando em lançar-me ao voo,
Talvez seja meu último crime,
Se a vida me for só de enjôo.
Olhar lá do alto em vertigem,
Pensar em cair e o impacto,
Reporta sofrer desde a origem,
Com a conclusão vindo a jato.
Mas sei que o certo reclama,
Pensar três vezes bem antes,
Refletindo ou deitado na cama,
O que será feito em instantes.
O mundo caminha pelo éter,
Num tempo sem calculadoras,
Criando e mudando o suéter,
Vestindo as nuas Pandoras.
Quem sabe sou como a serpente,
Trocando de pele em arrastos,
Buscando o calor nas torrentes,
De um fogo de lava nos pastos.
Mas também posso ser baioneta,
De um fuzil sem ter um projétil,
Que depende do ódio e da treta,
Se o capeta não é como réptil.
Todos nós sofremos do acaso,
Pois a felicidade é de momento,
E não somos algozes de fato,
Onde a morte servir de lamento.
Somos sempre vítimas da trama,
De quem pensa ser Deus e eterno,
Pois o corpo desfaz-se na lama,
E seu rosto não vai pro caderno.
Cada escrita só nos eterniza,
Se casar com ações ou vitória,
Como o gozo do gosto na pizza,
Se garante enquanto há memória.
Mas a vida é de altos e baixos,
Pois nem sempre seremos felizes,
Quando vaso não é de alabastro,
Nem o unguento é perfume de Isis.