SOU TAMBÉM DE MEUS SERTÕES
Andando sob o Sol e a lua,
Ardi e também tive a brisa,
Enquanto sou a verdade nua,
Do mundo que não tem divisa.
Voando eu sou até cacatua,
Embora seja mais um condor,
Olhando como o vento atua,
Sobre as nuvens do equador.
Meu mundo não tem muralha,
E meu quintal é sem cerca,
Pois me vejo pelo Valhala,
Como em ruas onde me perca.
Já andei pela Via Ápia,
Nos tempos de minha alma,
Como o vento numa harpa,
Tendo o som que me acalma.
Sou do tempo das cavernas,
Mas também de meus sertões,
Fui taifeiro em caravelas,
Vim de Angola e li Camões.
Admiro as muralhas da China,
Ao contrário das de Adriano,
Pois a Ásia é minha piscina,
Como berço do credo humano.
Quero o mundo como uma casa,
Onde a mesa chama as famílias,
Com as caras feitas na brasa,
Ou corpos gestados em trilhas.
Mas o único inimigo presente,
É a morte sem ter um herdeiro,
Pois a vida será tão ausente,
Quando o dia for de desespero.
Ser eterno é se perpetuar,
E demanda juntar os gametas,
Como o terno que devo usar,
Numa festa contando cometas.
Nosso corpo tem a cor do Sol,
De acordo com local e clima,
E é esse o melhor girassol,
Que define a nossa melanina.
E por isso sou grego/africano,
No sacrilégio de me deificar,
Pois reflito meu gozo humano,
Vinculando trejeitos de amar.