MEUS DESMAIOS
Certo dia já não era magro,
E disseram que eu ia morrer,
Veio angina como um agravo,
Da pressão que vi convencer.
Eram os idos buscando saúde,
Quando um filho já padecia,
Tendo o câncer como virtude,
Pois venceu em Sampa e Bahia.
Desde aquele tempo nefasto,
Muito gordo nem sobrevive,
Mas eu fui antes do infarto,
Reduzir cada tripa que tive.
Já depois sou metade de mim,
E não posso fazer como antes,
Se fiquei como flor sem jardim,
Pois a força é dos semblantes.
Mas um dia eu fui às cavernas,
Pois eu deveria ser arqueólogo,
E a glicose depôs minhas pernas,
Ao cair sem me dar até logo.
Vi doutor que disse: cuidado!
Recupere o corpo e a sanidade,
Só depois veja o lago espelhado,
Na Chapada, que é sua saudade.
Mas eu pus teimosia à frente,
E busquei andar pela trilha,
Só achando não ser mais doente,
E caí, como em uma armadilha.
Hoje, longe de lá e no ócio,
Fui olhar um artista baiano,
Seu Luiz Caldas era o negócio,
Mas, de novo, caí soluçando.
Foi o jeito voltar para casa,
E guardar esse corpo decrépito,
No consolo da Faixa de Gaza,
Só querer um homem intrépido.
Mas eu penso nos meus desmaios,
E se o próximo me deixará vivo,
E, por isso, escrevo e não saio,
Pra deixar os poemas num livro.
Se quiseres saber o que penso,
Vá às linhas de tudo que risco,
E verás que o corpo eu compenso,
Pois no fim eu serei só corisco.