SAUDAÇÕES A DOM E BRUNO
Pensei tantos nomes e sobrenomes,
Mas só refleti pela sã natureza,
E em cada briga entre os homens,
Pela ilusão do que seja riqueza.
Pensei em Nicete e no pau-pereira,
Lembrei Giordano e de cada Bruno,
Falei do Dom de dormir na esteira,
Achei na Amazônia o berço e rumo.
Falei com araras, lá no pau-oco,
Nadei com ariranhas pelo Javari,
Fui índio outrora e hoje sou louco,
Na pele de quem sonhou o que vi.
Não há quem nos pague, ó, bom moço!
Tudo que fizestes e tanto aprendeu,
Traindo a ganância do fundo do poço,
Pra onde se foi desde que morreu.
As mortes nos tiram a alma do corpo,
Mas não conseguem roubar o saber,
Mesmo que só queiram ouro do morto,
Mas seu remédio não vão poder ter.
Como diziam as mães de terreiros,
O aprendizado quer joelho no chão,
Pegando o peixe com os beiradeiros,
Colhendo no mato o chá de infusão.
Não vi um pajé, só o bumba-meu-boi,
Por causa do pasto matar a floresta,
E onde eu andei não vi o peixe-boi,
Há só canibal, que nos come na festa.
Lembrei Tiradentes no quinto do ouro,
Parece de novo que fui esquartejado,
Mas nesse inferno só há ouro de tolo,
Pois nunca há paz se é vida de gado.
Se for pra matar, de que vale viver,
Pois quando fui mar eu doei a vida,
E para ser feliz eu preciso dizer,
Natureza é vital e não a despedida.
Se por ouro eles vão se matar,
Eu prefiro ser como aborígene,
Pois ali não vou mais faiscar,
Ao contrário de quem nos dirige.
Que o mundo entenda seus erros,
E moderem a ganância por nada,
E aprenda com todos seus medos,
A buscar as razões da jornada.
Mas de vós, Bruno e Dom,
Guardaremos a boa lembrança,
Na saudade de tudo de bom,
Que fizeram ao ter esperança.