SIMBORA SEM BOLA
Na minha infância bola era tudo,
Desde quando brincar tinha emoção,
E até na escola, durante o estudo,
A hora de folga foi bola no chão.
Mas o tempo passa e nos ensina,
E quando não ensina nos dá opção,
Por isso a bola em cada esquina,
Ficou entre redes ou numa mão.
Era futebol, mas hoje é bem mais,
Foi bocha, boliche e bola ao cesto,
Já foi inglesa ou Itálica na paz,
Mas foi alemã e ibérica no resto.
Na juventude brinquei de sinuca,
Mas com sete bolas e taco na mão,
E vi "Detefon" numa mesa maluca,
Jogar apostado sem ter compaixão.
Fui fã de tênis e de Bjorn Borg,
E não perdia os jogos na quadra,
Mas o meu corpo não é um cyborg,
Então eu assisto com boa risada.
Nosso mundo é uma bola gigante,
Nas jogadas do vão sideral,
Mas se une ao Sol flamejante,
Transpassada na grande espiral.
Via Láctea ou estrada de leite,
Tem o brilho que vi do quintal,
Numa Quinta, com vinho e azeite,
Que me faz lembrar de Portugal.
Mas também não esqueço a origem,
Que a vida me fez lá em África,
Desde quando carbono e fuligem,
Vão datando no tempo com marca.
Hoje sei que somos todos iguais,
Que não há diferença ou raças,
Mas tão somente etnias normais,
Nos costumes de tribos e tabas.
Só agora, num mundo sem porta,
Temos a chave mestra pra tudo,
Mas lembrar cada erro importa,
Pois exorta o que ainda estudo.
Foi dali, com a antropologia,
Que revi conceitos da verdade,
Na cultura de quem já vivia,
Ao pensar em nossa liberdade.
Pois agora eu entendo a cidade,
Se ninguém vê origem pra vida,
Mas violam a paz com vaidade,
Pois nem viram a fêmea parida.
Bebem leite sem ver uma vaca,
Comem até bacalhau sem cabeça,
Já nem sabem de joio ou praga,
E até quando uma lua apareça.
Por isso, simbora sem bola,
Porque nosso destino reclama,
E ninguém saberá qual a hora,
Que o Sol não terá sua chama.