HOJE NÃO É SÓ TREZE
Hoje não é só treze de maio,
E também não é sexta nua,
Pois, desde quando fui raio,
Que contam as fases da lua.
Mas nosso planeta é oval,
Com lados de hoje e amanhã,
Ou mesmo no lar do narval,
Há dia que é noite ao divã.
Quem foi que deu nome ao dia?
Quem foi que disse o que sou?
Senão, como então eu seria,
Pois sou um servo, Senhor!
Na minha história em milênios,
Já houve milhares de açoites,
E como também teve essênios,
Vivi como escravo das noites.
Enquanto alguns descansavam,
Nem mesmo a caverna dormia,
E os carros traçados passavam,
Na estrada que nem existia.
Se não estivesse acordado,
Como é que eu veria o cometa,
Ou se eu não fosse assanhado,
Pra que serviria um gameta.
A vida nos quer sempre agora,
E não na tristeza de um bar,
Porque não há mundos lá fora,
Se eu nunca lhes visitar.
Vivemos do nosso presente,
Que não adianta ou atrasa,
Porque se já somos ausente,
É porque queimaram a brasa.
Viver de mentiras tamanhas,
Pois há quem se acha liberto,
É como viver nas entranhas,
Achando que o céu está perto.
Aqui, nessa estrada tão nua,
Ainda me sobra a esperança,
Se a paz tenho aqui com a lua,
E o pio da coruja que dança.
Meus sonhos embalam meu berço,
Enquanto meu corpo falece,
Mas sou verbo enquanto anoiteço,
E reclamo de quem se envaidece.
Daqui nada levo de jóias,
Diriam Noé e Alexandre,
Que tanto fizeram histórias,
E nem levaram seu sangue.
Aqui só seremos memória,
De acordo com nossos atos,
Que podem ser louro e glória,
Ou também ser inexatos.