A CASA DOS MEUS DIAS
Uma casa pode precisar de nós,
Mas o planeta dispensa a todos,
E se a Terra se basta ao sol,
Não somos como um só cometa.
A casa precisa que se habite,
Senão ruirá junto ao tempo,
Pois rato e formiga é salitre,
E roe uma escarpa ao vento.
O nosso tempo é muito curto,
Por isso nem sempre entendemos,
E o engano nos deixa desnudos,
E é quando ingerimos venenos.
Pensamos que há longevidade,
Mas o nosso corpo é falível,
E não perceber-se vaidade,
Nos deixa viver o impossível.
Queremos a tudo pra sempre,
Buscamos estrelas e portais,
Vivemos sem cuidar do ventre,
Mas queremos ser imortais.
Se até uma estrela nos mente,
Pulsando o que já explodiu,
Como ser passado ou presente,
Se o tempo é futuro e fugiu?
Por isso, seja mais consciente,
Amando sem cobrar só o valor,
Se a vida será de presente,
Como o mundo de Nosso Senhor.
Numa flor que se abre e acolhe,
Está sempre o pólen e o aconchego,
No aguardo da abelha que escolhe,
Ou servindo de banho e chamego.
Estar com a flor na lapela,
Ou ter uma casa cheirosa,
Amar ao rezar na capela,
Nos faz gostar de uma prosa.
Então, aproveito meus dias,
E a casa do tempo ao vento,
Se declamo as minhas poesias,
Buscando ser paz e contento.