O TEMPO COM O VENTO
Tudo na vida é do passageiro,
Mesmo que haja um motorista,
Porque cada dia é ligeiro,
E o ontem perdeu-se de vista.
Fazer a viagem é engraçado,
Desde que esqueçamos o tempo,
E tudo que hoje é ditado,
No dia se vai com o vento.
Aquelas montanhas ao lado,
Disseram sofrerem um aperto,
Da crosta que força o costado,
Do fogo que arde tão perto.
O núcleo da Terra traz algo,
Como um coração que desperta,
E o sangue que é libertado,
É a lava que tudo conserta.
Mesmo ao cobrir Pompéia,
Um vulcão traz a nova vida,
Porque gesta numa odisséia,
O redescobrir que convida.
Estórias são fruto da história,
Mesmo quando traz fantasias,
Porque é um encanto ou memória,
Mas também nos criam poesias.
As odes gregas do passado,
São tempos de muita agonia,
Porque o contraste é um fardo,
Se a guerra é tudo que havia.
Saudades não dão mais recado,
Porque cada tempo é veloz,
Mesmo que olhemos pros lados,
E o vento nos seja um algoz.
O tempo transforma a tudo,
Mas não nos deixa perceber,
Senão nosso amor morre mudo,
De tanto que vamos correr.
Por isso a vida é um inverno,
Que segreda os uivos no vento,
E nos dá serventia ao caderno,
Que guarda as letras do tempo.
Nesse tempo de louco outono,
Somos mais do que só estações,
Pois vamos gozando do abono,
De flores, de frio e verões.