VENTO EM PRELÚDIO
O palco é vazio se não há artista,
Bem como um pavio sem pólvora,
Mas não serei o cantor belicista,
Que explode a garganta no gólgota.
Lá no monte a dor é fascista,
Pois depõe o cordeiro e a lã,
Sem louvor de um louco contista,
Se há cravos sem rosa nem fã.
No sopé há vento em prelúdio,
E a meseta já não me importa,
Desde que tudo é um barulho,
Onde a fé já não bate à porta.
Desde aquele momento oculto,
Que não vejo a cesta e a horta,
Mas aqueles sibilos tão surdos,
São sinais de uma ópera morta.
Só então eu percebo a ingrata,
Que foi causídica do tropeiro,
Guiando sem ouvir a sonata,
Pois o surdo não anda ligeiro.
Mas o verbo que teima ecoar,
Denuncia o que o vento exorta,
E o alpendre de um velho altar,
Anuncia o que não comporta.