O SANGUE DE SETE MESES
Só o sangue escorre na maca,
Mas não basta o bucho furar,
Pois a bala cruzou pela arca,
Do corpo que cai do andar.
Sentindo saudades do filho,
Que ainda sofre num hospital,
Um segundo se torna vacilo,
E a revolta é o meu capital.
Mas o mundo é uma espoleta,
E o tambor pode estar na arma,
Desde quando a bala ou caneta,
Mata o homem ou suja a farda.
São conflitos que doem na vida,
De quem só trabalhou a sonhar,
Mas viveu desde cedo na lida,
Pois nasceu antes do Sol raiar.
As barrigas de só sete meses,
São colos precoces de anjos,
Pois viver acontece às vezes,
E por Ser, o divino faz planos.
Cada vida no mundo é graça,
Pois a morte é certeza no fim,
E não tema por cada desgraça,
A não ser que tu sejas ruim.
Ser do bem é valor numa praça,
Pois um ombro é colo também,
E o respeito é um feito de graça,
Se a graça de amar é seu bem.
Tenha pena daquele que sofre,
Seja bom mesmo a um insano,
Pois a vida é presente tão nobre,
Mesmo quando há dor e engano.