VIDA E MORTE QUE TIVE
Não sei onde antes morei,
Se as pegadas logo apagaram,
São memórias que hoje não sei,
Como barcos que naufragaram.
Desde quando eu naveguei,
E a sereia afundou meu navio,
Que escrevem o que enfrentei,
Mas não há um escriba de rio.
Muito menos eu vi Pero Vaz,
Pois Sardinha serviu de comida,
E foi no instante com os canibais,
Que sua carta não pôde ser lida.
Hoje penso se fui pobre ou rei,
Desde quando há mel e urtiga,
Que às vezes resolve ou nem sei,
Pois no Céu não há dor de barriga.
Toda vida e morte que tive,
Não me diz ser real ou eterno,
Se o destino de Ur ou Nínive,
É história ou pau de aderno.
Somos sombras ou tradição,
Ou a célula que ressuscitou,
Se hoje sou cópia ou versão,
Ou pareço ser o que não sou.
E a lembrança será descrita,
Se eu vi ou alguém escreveu,
Porque hoje ninguém acredita,
Pois até São Tomé já morreu.
Eu ainda escrevo o meu luto,
Pois é certo que vou morrer,
Mas não quero apenas o susto,
De acordar sem nada saber.