NÃO ERA HAMBURGUER
Os tempos da infância se foram,
Mas tem dias que não esqueço,
Pois quando as crianças valoram,
É porque não podem ter preço.
A vida era campo ou comércio,
Embora um menino não mente,
E foi sacaneada em seus versos,
Que a infância morreu recorrente.
Nesses dias não tinha brinquedo,
Com a escola mesclada ao labor,
Mesmo sendo a cena do medo,
Do que nem se dava ao valor.
Trabalhar sem dinheiro e carteira,
Era a coisa normal dos tempos,
E doente só tinha a liteira,
Se quisesse o afago dos ventos.
Nesse tempo a comida só vinha,
Enlatada por sonho ou cinema,
E não era hamburguer que havia,
Mas quitute que não vale a pena.
As pessoas sofriam com a fome,
Ao se andar léguas pro trabalho,
Sem saber qual o dia e seu nome,
Como planta a viver sem orvalho.
Não se tinha o direito de ler,
Nem ter casa ou um quebra galho,
Mas somente um xadrez a prender,
Pois o outro é tempero sem alho.
Hoje eu sei do engodo e ilusão,
Que chegava na cena do ianque,
Com cigarro, cowboy e blusão,
E o esgoto fedendo o palanque.
Dominaram a política e o quepe,
Cozinharam o Brasil num espeto,
Se o ricaço daqui é um moleque,
Que não pode ser gente no gueto.