OLHOS DE PRIMATA
Se tenho olhos que bastam,
E enxergo o que não preciso,
É pelos motivos que agastam,
E põem o mundo em risco.
Se tenho olhos que suplicam,
Por cores do céu, noite e dia,
Até sob chuva não cegam,
Porque só nos traz alegria.
Mas tudo será dependente,
De como resolvo o que quero,
Se planto ou como a semente,
Ou se rego o que tanto espero.
Não devo enxergar tão profundo,
Mas se necessário serei água,
Pois nem há foguete no mundo,
Que diga qual tempo aguarda.
Nem sempre terei a fogueira,
Mas posso querer ter fumaça,
Ou se escorar numa figueira,
Mesmo que sombra não faça.
Mandarei mensagens de nuvens,
Ou repiques de toques no couro,
Se pombos-correio não surgem,
Mas meu ouro vive de aboio.
Não seremos o mesmo animal,
Que surgiu para ser um primata,
Se alguém ficou no neandertal,
Mas no agora já sabe que mata.
Se ele mata até a si próprio,
Mata o seu solo e seu cão,
E não ama quando está sóbrio,
Mas teima em amor de ilusão.
Pois frequenta a mesa de bar,
Com lamentos no pé do balcão,
Sendo rei sem ter como gastar,
Mas querendo só ter diversão.