O ACASO FOI OGUM
Quem nasce antes da hora,
Ou mesmo sem ser da vez,
Seria abiku de uma senhora,
Tendo a morte como freguês.
Mas também pode sobreviver,
Se o destino lhe for caridoso,
E estar para o que der e vier,
Podendo ser verbo glorioso.
Esse jovem assim vai crescer,
Confiante ao buscar seu destino,
Mesmo quando não reconhecer,
Que o mapa lhe vem sorrindo.
Todos dizem que não vai vencer,
Se é mirrado ou tão menino,
Mas os campos vão florescer,
Com o acaso ou no sol a pino.
Desde então ele foi estudar,
Mesmo sem saber dos planos,
Por ter ido ao convento orar,
E lá fora estar por dois anos.
Conheceu de uma ilha ao mar,
Conviveu com gente estranha,
Mas não esqueceu de amar,
Pois seu tio lhe fez campana.
Quando viu que já não dava,
Fez caminho de volta à Bahia,
Pois Ogum já lhe norteava,
Mesmo quando não sabia.
Formou para a cumplicidade,
Entre os carros e as oficinas,
E com a mesma vivacidade,
Foi caixeiro em cada esquina.
Já maduro foi vestir a farda,
E com armas foi mais Ogum,
Sem temer o que lhe aguarda,
No combate e na vida comum.
Mas chegou até sua planície,
E a velhice precede o sossego,
Pois agora escreve ao Inquice,
Que a selva já não dá medo.