COM ESTAÇÕES
Vivo com todas estações,
E por isso às vezes sou ar,
Com o vento e as emoções,
Que levam a chuva ao mar.
Tenho tempos de inverno frio,
Logo após o outono na terra,
Como a fruta em beira de rio,
Que vem da semente eterna.
Cada etapa do ano tem cor,
Mas ao sol é que fico vermelho,
E sem capa eu vou de isopor,
Pra tomar a cerveja em janeiro.
Mas antes do calor tem o cheiro,
E nas flores proponho harmonia ,
Macerando as folhas primeiro,
E no banho atabaque é quem guia.
Mas o mundo é deserto e montanha,
E também é ravina ou geleira,
Mas é certo que numa campanha,
A viola é minha companheira.
Se nas serras a gaita eu sopro,
No terreiro eu toco o berimbau,
Então vou ao sertão vez por ano,
Porque lá tem beiju e mingau.
Foi assim que vi cabra e caçote,
Tive araquã, juriti e zabelê,
Vi um facho de luz dando sorte,
E a estrela cadente acender.
Na caatinga o umbú tem a cura,
Ao juntar barriguda e o coité,
Que me lembra comer tanajura,
Com o tempero de um 'sarapaté'.
Numa cuia me encharco de água,
Ou também de cachaça incha pé,
E no tacho a castanha chacoalha,
Num fogo que também faz café.