AINDA É ESCORREGO
Sonho apenas quando escrevo,
Mas os dias são de enterro,
Como um servo em degredo,
Caminhando em vendaval.
Gozo apenas de um morcego,
Que nasceu forjado em medo,
Sem ter couro, unha ou dedo,
E não tem gruta em capital.
Vejo as placas de um lajedo,
Indicando o velho caga-sebo,
Que colheu frutos bem cedo,
Mas não convida ao festival.
E o sapo ainda é escorrego,
Ou no convite de hoje é cego,
Como na boca de um marreco,
Sem dar chance ao ser mortal.
Quem quer festa pelo éden,
Não se prostra a um orgulho,
Nem mergulha em céu escuro,
De quem nunca leu jornal.
Os que versam seus anseios,
Deverão ver sem um apuro,
Pois que o leite vem maduro,
Pra dar vida e não ser mal.