TREJEITOS NA VIDA
Final de semana é descanso,
Pra quem não é vento e mar,
Senão saberiam que é manso,
O vulcão que não quer acordar.
Tudo existe e tem endereço,
Desde que não só seja sonhar,
Pois na loja tudo tem preço,
Mas exige ter ouro e pagar.
Uns aguardam a nova semana,
Porque outros estão na escala,
E aguardam comida na cama,
Mas não sabem a dor da senzala.
Tem aqueles que vivem na sombra,
Porque come o que nunca plantou,
E se acha uma vaca, se assombra,
Desde quando o leite não achou.
Se não viu borboletas e abelhas,
Nem lagartas e os passarinhos,
Como vai perceber as estrelas,
Pois se acha no mundo sozinho.
Tudo aqui depende do pastor,
Do peão, professor ou da regra,
Mas também da semente e da flor,
Para o pão que o padeiro entrega.
O bombeiro, enfermeiro e o artista,
São aqueles que não têm semana,
Nem tem hora ou são só diaristas,
Pois o fogo e a dor é que manda.
Pra que serve polícia e soldado,
Se viver só de paz, satisfaz?
E nascer sem ter pátria e estado,
Só me diz que a vida quer mais.
Somos todos filhos do mundo,
Sem fronteiras, muralha e fosso,
E pra termos o solo fecundo,
É besteira brigarmos por osso.
Uns se guardam nas religiões,
Ou se bastam nas filosofias,
Mas tabus e dogmas são cães,
A latir sem nos dar alegrias.
Só nos castram e nos cercam,
Não deixando ter dias de sol,
Criam erros que não consertam,
São de guerras e estátuas de sal.
Querem impor regras de Deus,
Mas esquecem do livre crivo,
Na verdade de se verem ateus,
Escondidos em tomos de livro.