MEU SER QUE É VENTO
Acordei no susto de sons no telhado,
Mas lembrei ser meu jeito de acordar,
E sentir que suspiro é seco ou molhado,
Porque trago o sol e a chuva no olhar.
Serei sempre esse arranjo do tempo,
Terei formas de um sopro na chuva,
Farei prédios de vento ou cimento,
Como o tempo de colher cada uva.
Cada cepa que cresce na encosta,
Lembra os saltos da cabra montês,
Esgueirando em uma vista imposta,
Como os passos incautos da vez.
Só então pensarei em ter leite,
Pro deleite com um vinho qualquer,
Mas também prensarei todo azeite,
Que a geleia e um queijo requer.
E assim volto à minha demência,
Se sou vento que sopra de Antares,
Que arrepiam os pelos da essência,
Pois renasço de todos quasares.