OS FILHOS JÁ NÃO PERCEBEM
Ter filhos é como estar no jardim,
Pois lá eu replanto meus ancestrais,
Das flores à grama, tudo no cadim,
Mas tudo é luto se há vendavais.
Plantei a roseira, mas ela é espinho,
Porque me aflora o cheiro da dor,
E vejo os valores do parto contínuo,
Que diz ser pecado o pai dar amor.
A vida nem sempre nos dá dinheiro,
Mas tudo tem preço na prateleira,
Somente o endereço de cada janeiro,
Nos dá o regalo para fazer a feira.
É pena que os filhos não percebam,
O esforço sem dia que fazem os pais,
E a cena é o reclame com o placebo,
Mesmo que ele viva só de algo mais.
O pai e a mãe só querem carinho,
Sabendo que um dia a vida termina,
E até que a cova nos deixe sozinho,
A vida só vale se houver vitamina.
Porque sem saúde e sem amor,
Não adianta ser um engenheiro,
Nem as poesias terão mais valor,
Se felicidade hoje é ter dinheiro.