ENTRE MAR E CORRENTES
As águas do mar evaporam,
Além de levar meu chorar,
Mas como a água do mundo,
Um dia eu me deito no mar.
Vão sempre existir os mares,
Na Terra, em Marte ou sei lá,
Deixando rusgas nos astros,
Mas só por aqui vão ficar.
Cá em baixo nós navegamos,
Nos mares da Mãe Yemanjá,
Mas entre Kalunga e bantos,
Eles nunca permitem voltar.
Eu hoje, crescido e humano,
Sou filho que quer se banhar,
Mas fundo de mar é profano,
E o temor é me ver afogar.
O passado foi livre em África,
E um negreiro me trouxe de lá,
Fui camelo do meio da cáfila,
E agora namoro o meu mar.
Mas ainda suporto as correntes,
Sendo escravo como um sabiá,
Onde canto em tom penitente,
Sempre preso, sem poder voar.