SAUDADE É MANGUINHO
Saudade é sempre um castigo,
Se por lá não irei mais deitar,
E assim, se o Manguinho é ido,
Pé de jambo é só pra lembrar.
Tinha ali uma jaca visgando,
Mole e doce de se acabar,
E só dava uma vez por ano,
Que o cabra nem pode falar.
Foi ali minha infância e alegria,
Entre a cana, garapa e o cacau,
Mesmo quando a noite caia,
Para ouvir grilos e o bacurau.
Não terei mais o cheiro da chuva,
Nem o frio do vento das matas,
Ou as prosas com todas viúvas,
Que choram a dor que maltrata.
Até mesmo os dois pau-brasis,
Que plantamos pra ter esperança,
Não terei mais a sombra feliz,
Que margeia a represa mansa.
Na barragem eu tanto guardava,
As traíras que não ficam em pé,
Com preguiças e os patos d'água,
Nas tabuas que tem jacaré.
Tinha muita chuva e lama,
Mas não foi uma mata igual,
Se Moreno cuidou do que ama,
Até quando lhe foi principal.
Mas o tempo castiga a rocha,
E desfaz tudo que seja eterno,
E agora só pinta sem brocha,
Pois a nova poesia eu encerro.
Se em cada palavra não basta,
Ficam só cada triste saudade,
Disso tudo que tanto me falta,
Pois na mata a vida é verdade.