NÃO SEI SE ESCREVO,
MAS QUERO MEU LIVRO
Não sei se sou eu que escrevo,
Pois já não há mais o caderno,
E as linhas que caem do prelo,
Me mostram um sonho eterno.
Meus dias assombram o sebo,
Dos velhos livros que encerram,
Porque eles guardam o medo,
Que as traças nunca enterram.
Ainda quero o meu livro,
Transcrito como um libelo,
Prezando o bem que persigo,
Sob um girassol amarelo.
Meu livro não terá palavras,
Mas letras que vem do anseio,
De ver o que falo nas praças,
E o sino dobrando no meio.
Eu sonho com dias serenos,
Além da ressaca em rodeio,
Porque o que rega os terrenos,
É mais do que água do veio.
Pois a cornucópia do sábio,
Tem frutos colhidos na alma,
Se a nave sem um astrolábio,
Requer o armistício que salva.