LIMPO OU SUJO
Espaços de vida me bastam,
Mesmo que eu queira o além,
Pois sonhos nunca resgatam,
O que não vivi com alguém.
Somente serão ideais,
Mas não serão a verdade,
Porque há muitos portais,
No delta de minhas saudades.
E tudo que pensei ter vivido,
Às vezes são só as nuances,
Dos sonhos da minha libido,
Que verso a cada instante.
Assim eu me lembro das noites,
Em cada sertão ou na mata,
Que penso ser sujas nos coitos,
Por cada tabu que maltrata.
E o outro lado seria tão limpo,
Porque é o dia e tudo retrata,
Nas cores do Sol sobre o lombo,
Pois acham que negro só mata.
Mas digo pra todos que negam,
O que representam nas cores,
Porque somente se apegam,
Ao que se afloram sem dores.
Enquanto a vida consiste,
Em se aprender com a dor,
Porquanto o riso insiste,
Em nos revestir de pudor.
Pois cenas não mostram o osso,
O qual se esconde das feras,
Enquanto o arrepio nos rostos,
Somente é o frio que impera.
E o frisson das almas só chegam,
Nos casos em que divergimos,
Daqueles que versam e pregam,
O que podem ser desatinos.
Aí dizem que sou limpo ou sujo,
Mas não ligo e vivo seguindo,
Pois no mar serei sempre marujo,
Com a concha e um cachimbo.
Serei o que o limo disser,
Mas também serei uma rocha,
Onde escrevo o que eu quiser,
Em desdém à verdade imposta.