SAUDADE DE UM GALO
Eu queria ser ave em qualquer lugar,
Mas não vi minha asa ter espaço,
Pois teria o meu tempo pra voar,
Bem além da caverna em que me acho.
Não serei só morcego a pendurar,
O meu corpo e cabeça para baixo,
Mas eu quero o meu canto a ecoar,
Já que meu sabiá senta no cacho.
Hoje me lembro do que só fui olhar,
Por não mais enxergar além do sonho,
E relembro da infância sem brincar,
Pois ao trabalhar não tive o ganho.
Ser criança em sertão com um luar,
Me faz desejar voltar no tempo,
E ciscar no terreiro e até pescar,
Pois o meu sabiá conhece o vento.
Onde o vento me fala a escorregar,
O seu sopro na encosta das corujas,
Porque o cabrito só berra a chorar,
Se a onça expõe suas unhas sujas.
Que saudade de um galo a cantar,
Com os passarinhos em cada manhã,
E mamãe com o café a me chamar:
Vem aqui pra provar de uma maçã!
Todo mundo era pobre de lascar,
E o Brasil nem sabia ser nação,
Por ter coronéis a nos torturar,
Como o canto seco do cancão.