PALAVRAS OCULTAS
Cada livro guarda o que penso,
Porque revela palavras ocultas,
Mas as línguas sibilam ao vento,
Se a história declama disputas.
Já pensei nas histórias de Tróia,
E até mesmo na dor de Esparta,
Por trezentos cingidos de glória,
Onde havia "o raio que o parta".
O desejo de dar fim ao inimigo,
Sempre houve em cada batalha,
Mesmo quando o fogo amigo,
Faz de nós o mesmo canalha.
As disputas somente prometem,
O tesouro que nunca teremos,
Pois na luta os justos padecem,
Desde que não é paz o que temos.
A ganância transborda nas leis,
Quando elas só servem velórios,
Se rei morto é rei posto na vez,
E o mandante é um torto notório.
Cada tomo escondido na estante,
Fala mais do que tanto se lê,
Pois agora a cultura é um rasante,
De um voo em que nada se vê.
Só sobrou tagarela e um louro,
Sem saber o que vão lá falar,
E o zunido de um povo besouro,
Com seu mito que nada lhe dá.
Hoje temos néscios no trono,
Ou seriam ladrões de casaca,
Que destoam até dos patronos,
Pois do louro são só maritacas.
E assim há palavras ocultas,
Nos salões de cada ministério,
E o desdém com o povo que luta,
Pois há roubo de algo mais sério.
Nos roubaram a liberdade,
E até o direito da fala,
Se deitaram com a vaidade,
E nos deram um tapa na cara.