A LATA E O LAR
O carro de lata cheirava a óleo,
E o nome Violeta estava no lado,
Cortada e pregada na tábua mole,
Que tinha molas sob o tablado.
E junto às molas ficava o arame,
Que logo seria o eixo das rodas,
Com o chinelo sem o meu nome,
Cortado redondo pelas bordas.
Era o brinquedo que ainda se achava,
Ou se tinha guris jogando bola,
Que era de gude ou meia enrolada,
Mas o que faltava servia de escola.
E tudo era técnica de aprendizado,
Brincar de peteca ou de se esconder,
Fazer as bonecas e até o penteado,
Durante as tardes e o anoitecer.
E toda manhã o café era a parte,
Em que mãe dizia pra logo orar,
Para agradecer toda felicidade,
Da noite e o dia nos abençoar.
Sofria quando estava a panela vazia,
Que não permitia viver de sonhar,
Mas se pão faltava ela logo pedia,
Inhame da roça para cozinhar.
E assim nós crescemos,
Mas o que não tinha preço,
Era o pouco que tivemos,
E que não mais esqueço.
P.S.: No último verso da última estrofe, que está na foto-texto, fiz uma correção, trocando "Mas" por "E".