GAMBÔA OU MARMELO
Nasceu da gamboa,
Ou foi marmeleiro.
Desceu pela maré,
Mas ela foi a última.
…
Pois naquela manhã,
O mar rachou o fundo.
E naquelas fissuras,
A lava assou primeiro.
…
E o peixe na gambôa,
Foi de um brasileiro.
Mas não viveu de boa,
Por ter pele escura.
…
Por isso foi pescado,
Por dois taifeiros.
Senão seria oculto,
Como o caranguejo.
…
Que estava no mangue,
Num consolo trágico.
E já não tinha sangue,
Pois morreu primeiro.
…
E perguntou: Gambôa?
Mas foi marmeleiro.
E o doce foi plácido,
Que acabou bem cedo.
…
E assim viveu no luxo,
Que é se ver primeiro.
Porque no espetáculo,
Foi Coliseu carteiro.
…
Então, fumou a ganja,
E foi pular o muro.
Brigou com o professor,
Como cachorro cego.
…
Mas logo ficou velho,
E foi ser só trilheiro.
Brincou de medicina,
Mas descuidou do medo.
…
E assim viveu no mangue,
Antes de um janeiro.
E morreu numa chacina,
Pois foi companheiro.
…
Deixou tudo na esquina,
E o peixe sem tempero.
Porque sua inquietude,
Viu de volta o mangue.
…
E assim se foi Gambôa,
E mais que um brasileiro,
Foi fruto em maré boa,
E um traque no esteiro.