A FACA E A COSTURA
A FACA E A COSTURA
Já não acordo cedo e pronto,
Mas sei as etapas que tive,
Relembrando meus desencontros,
Assistindo ao que me faz livre.
Que triste é não se enxergar,
Porque há um escuro em nós,
Que insiste em nos devorar,
Enquanto não busco por sóis.
Quem saberá o modo de cura?
Quem viverá para o sermão?
Se já não sei quem me acusa,
E já nem há mais contramão.
Fui professor e inspiração,
Ou confessor de um titã,
Pra ver toda vã discussão,
E o Sol devorando a maçã.
Ou fui só um mergulhador,
Descendo ao fundo sem ar,
Com o cilindro cheio de dor,
Mesmo que eu seja o mar.
E assim, hoje sou como chuva,
Curtindo o calor a me inticar,
Pra ter raio que sempre acusa,
E aduba ou contrasta o luar.
Mesmo assim, tem faca que fura,
E há costura que não vi sangrar,
Se o beijar nos traiu numa urna,
E me lembra o que vou enfrentar.
Enquanto uma bala ceifa Vargas,
Um carro atropela Juscelino,
Mas não sei o porquê da esquadra,
Não varrer quem está nos traindo.
E o jeito é poder comer ossos,
Usando carcaças na sopa,
Enquanto ainda há postos,
E os trapos ainda são roupa.
Porque esse tempo é findo,
Ou não haverá mais futuro,
E tudo que peço é: Acordem!
Senão o amanhã é escuro.
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 02/10/2021
Alterado em 02/10/2021