SER TUDO OU PARTE
SER TUDO OU PARTE
Não sou o abraço do tempo,
Mas sou o seu breve instante.
Não sou o amor e fermento,
Mas sou o inflar do amante.
Sou peça de um tabuleiro,
Mas não a batalha distante,
Sou conta de vários janeiros,
Na soma que segue adiante.
Num mar revolto ou faceiro,
Sou louco ou foz navegante,
Porque sou na onda o primeiro
Gotejo que surfa bem antes.
Nessa carta sigo sem selo,
E sou mensageiro errante,
Por não governar meu cabelo,
Que açoita o peito arfante.
E assim vou montado em pelo,
Nas costas de um mastodonte,
Pois serei sempre o primeiro,
Dos dentes de cada elefante.
E vou com memória precisa,
Gravada na rocha ardente,
Que chega na flecha caída,
Do céu de fogo radiante.
E faço da Terra a guarida,
Da vida e do Sol no horizonte,
Se a festa é cachaça servida,
Da parida de folhas da fonte.
Mas a preta da coxa fornida,
Me enrola o folha de ontem,
Que o fumo gerou na medida,
Se à noite seu dengo é nome.
Depois de fumar meu charuto,
Numa rede ao sol no poente,
E o café ser moído maduro,
Misturo no leite bem quente.
Desse jeito se finda um conto,
Que lamento ser breve de ouvir,
Mas se deixo levar pelo santo,
Seu encanto me fará sorrir.
E então, serei tudo ou parte,
Mas a dona das partes é tudo,
Desde quando sejamos a arte,
Onde espanto o meu absurdo.
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 16/09/2021