A SEMENTE E A DOR
A SEMENTE E A DOR
O princípio de tudo dói, pois modifica,
Saindo da estática de quem não sonha,
Porque, sem a luz, só a noite fica,
Na espera da lua na sombra tamanha.
Mas dor é preciso, pois significa,
Que vivo estamos e vai perdurar,
Desejos que nascem na vida nanica,
E crescem enquanto se pode andar.
Só sei que aqueles que fincam raízes,
Nem sempre perduram naquele lugar,
Pois nunca conseguem fugir dos deslizes,
Que toda encosta depõe ao sangrar.
São gotas de chuva que se acumulam,
E nos surpreendem sem mesmo avisar,
Cumprindo a sina dos que se aturam,
Mas cede ao destino de só derrubar.
E assim as montanhas se vão pelo vento,
Ou são esculpidas por cada escoar,
Da água que brota e chora em lamento,
E são fornecidas pra morrer no mar.
Por isso não quero o eterno na Terra,
Pois bem lá na serra não vi perdurar,
Meu chão carcomido de tanto ver guerra,
Que dão por desculpa pra me torturar.
E tudo é a falácia da paz pela guerra,
Enquanto a fome perdura em meu lar,
Armam as tropas ou queimam a terra,
E salgam o chão para o meu jejuar.
Mas nunca deixo de crer na semente,
Que guardo de África em cada lugar,
E nasceu sem rumo e tão de repente,
Mas tem baobá para nos ensinar.
Então, busco as sombras e ouço itãs,
Buscando a razão dessa dor perdurar,
E traço meu rumo em todas manhãs,
Que ainda permitem o meu caminhar.
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 18/05/2021