A ESCRITA QUE FALA NA LATA
A ESCRITA QUE FALA NA LATA
Disseram pra mim que chegou o outono,
Mas não sabem dizer o que é ser Jequié,
Pois aqui o verão sempre é dono,
E o calor nasce aqui com o Sol já de pé.
Nesse vale de encanto acho a primavera,
Num repente do campo ter flores enfim,
E o ipê se amarela como o Sol na janela,
E depois do inverno eu preparo o jardim.
Mas certo é dizer só ter uma estação,
Pois verão é o mais festeiro do ano,
Que as roupas nem mudam de pano,
Sem ter gelo ou urso da hibernação.
Por aqui tudo lembra o jurássico,
Se nas grotas ainda vive um teiú.
Pois calango nunca viu frio clássico,
E na beira do rio tem jibóia e tatu.
Pois assim não esqueço das flores,
Que bendizem até cada mandacaru,
Onde eu vi os sofrês mais cantores,
Com chuva e o mel da abelha uruçu.
Só então eu relembro as distâncias,
Pra colher siriguela e cesto de umbú,
Com leite da cabra e jabá na infância,
Sem temer cascavel nem a surucucu.
Esse sim é o espaço das mesclas,
Onde junto a caatinga e a mata,
Com o dedo em todas as teclas,
Onde a escrita se fala na lata.
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 26/03/2021