AGUARDO BEM MAIS

AGUARDO BEM MAIS

Aguardo em nosso vinte e um,
Bem mais que o meu agora,
Pois senão serei somente um,
No baú capitão de Pandora.

Que o coice do jegue abriu,
Desde quando zurrou pelo Ustra,
Mas lembrei vinte e dois de abril,
Pois Cabral até hoje me assusta.

Se a mentira chegou com a côrte,
Na calmaria que trouxe um séquito,
Ou cruzando o kalunga no açoite,
Fez no escravo a dor de Hefesto.

Pois cunhou em homens o Cão,
Conjugando a alma com a pele,
Pela cor ou pela condição,
Sem direito que o credo celebre.

Teve o preto sem antepassado,
Como se não fossem humanos,
Esquecendo de tudo que é fato,
Na história contada por anos.

É por isso que ainda acreditam,
Em quem nega tudo que se sabe,
Pois assistem na boca maldita,
Das besteiras que não nos cabe.

Mesmo assim vou plantar meu jardim,
Como quem já prepara um bom colo,
Pois eu sei que não quero pra mim,
Um maluco gestado em seu solo.

Se é solo um canto sozinho,
Que entoas na noite funesta,
No delírio de tanto espinho,
Comungado na morte impressa.

É assim toda noite na mídia,
Onde vejo a morte ser festa,
Se o povo abraça a perfídia,
No leito que tanto se infesta.