DOIS QUINTOS E O PURGATÓRIO
DOIS QUINTOS E O PURGATÓRIO
Eu nada pagava no início incerto,
Vivia de escambo, de caça e pesca,
Plantava batata, o milho e o resto,
Enquanto a bastilha era casa da besta.
Aqui não havia a cumplicidade,
Mas tinha a verdade do mar aberto,
Enquanto a floresta me resguardava,
Do ouro de tolo, se ainda me presto.
Mas eles chegaram, como javalis,
Que tudo comiam, na fome voraz,
Nem mais a mandioca eu consegui,
Pois nem a farinha eu tenho mais.
E cobram até mesmo do meu viver,
Se nada eu vendo ou troco por lá,
Naquele mercado um banco é que há,
E cobram dois quintos para ver morrer.
E após o velório vou perguntar,
Em qual purgatório terei meu sofrer,
Se acaso é lá o meu padecer,
Num quinto do inferno como altar.
E meu sacrifício já querem cobrar,
Com aquele chicote a estalar,
No dorso que tenho somente a doer,
E escravo eu sou mesmo ao luar,
Se a hora da morte é o escurecer.
Publicada no Facebook em 02/04/2020
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 14/09/2020