A CANA E OS MIÚDOS
A CANA E OS MIÚDOS
Eu parto do nada,
Em busca de algo,
Mas minha cor parda,
É um preço que pago.
Pois cara é vida,
De quem foi escravo,
Na cana servida,
Em forma de trago.
E assim eram os dias,
Nas camas de açoites,
Naquela vil agonia,
Sofrida em todas noites.
Então havia a garapa,
Que sobrava da cana,
Pois aliviava a chibata,
De uma tortura insana.
Assim o preto se encharca,
Mesmo à noite ou na lama,
Sem a coberta ou fornalha,
Com a cachaça que assanha.
E aproveitando os miúdos,
Que a Casa Grande dispensa,
Fazia como aos charutos,
Comendo o que hoje é fama.
E foi assim que a cachaça,
As tripas e a feijoada,
Ganhou o gosto da praça,
Além da Preta almejada.
Que além de ama de leite,
Tinha a coxa encharcada,
Pelo Senhor em deleite,
Por seu calor lá na cama.
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Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 17/07/2020