O CANCÃO E O SACRIFÍCIO
O CANCÃO E O SACRIFÍCIO
Na savana africana o leão é um rei,
Pois já não temos algozes pra ele,
Que rivalize ou mesmo modele,
Fazendo a gazela temer sua lei.
Como na lagoa, nos meandros do Nilo,
Onde nas águas se escondem,
Deixando apenas os olhos brilhar,
Eu vejo a fome de um crocodilo,
Que se arrasta ou está a nadar.
Pois todo caudilho é também animal,
Já que se impõe pela força,
Sangrando o povo na praça,
Num martírio que não tem graça,
Como uma traça ou um lobo mau.
E eis que hoje revemos,
As tragédias de outrora,
Nos devorando no frio da aurora,
Nos tirando o pouco do que já nem temos.
E o cancão chega para o ofício,
Com a fome de crânios romper,
Como faz com as aves pequenas,
Num sacrifício insano de ver.
E na valsa de bichos e políticos,
Vejo a tragédia na cena urdida,
Sem esquecer da dor na ferida,
Que dilacera a esperança do povo...
...que se torna apenas lixo e estorvo,
Num terror apocalíptico de novo,
E um discurso prolixo de corvos,
Que não esconde os vícios do tirano poder.
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Publicada no Facebook em 05/01/2020
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 17/04/2020