ME PAREÇO COM UM PIANO,
MAS SOU PLUMAS PRA VOAR
ME PAREÇO COM UM PIANO, MAS SOU PLUMAS PRA VOAR
"Certa vez já fui uma árvore, frondosa ali na mata, com uma altura que não servia pras corujas, mas acolhia as harpias e os carcarás. E se permitia ser uma casa para as araras e papagaios que revoam a gralhar.
Mas um dia me avistaram e sucumbi à dor dos ferros, os quais em serras já nos mataram, pois em pranchas nos serraram, e hoje sou apenas nada, já que não respiro os ventos, nem as seivas que eram meu sustento, para as folhas farfalhar.
E me fui pra serraria, ser uma mesa ou instrumento, pois ecoou num lamento todos os sons que um artista sabe dar ao violão, ao saxofone, ao violino e ao piano, que se espojam ali no chão.
Mas até isso tem prazo curto, pois já me vejo sem o teclado, jogado à praia, com gaivotas a defecar, secando as plumas ao pôr do sol, onde um casal é o melhor de um momento num pré luar, mostrando ao mundo dos humanos que tudo passa, mesmo quando a gente acha que somos eternos reis, pois não atinamos para a vez e o momento, antes que chegue o lamento, pois já nem somos como o tempo, que sabe distinguir entre o verde e o maduro, pois ele cria e recria, com o sopro da eternidade, que vive a vida de verdade, pois essa somente é de Deus."
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Publicada no Facebook em 12/12/2019