DIANTE DA ESFINGE ME LEMBRO DA VIDA
DIANTE DA ESFINGE ME LEMBRO DA VIDA
Me lembro de tudo
Se enfrento a hypnos,
Pondo os quatro palitos,
No chão dos soluços.
E os soluços não calam,
Pois o mármore é frio,
Me dando mil calafrios,
Que não findam e nem param.
Mas os dias se passam,
Já não esgueiro no chão,
Pois a minha paixão,
Era estar bem no colo.
E naqueles escorregões,
Que a moleza impunha,
Nem comendo pupunha,
Levantei meus cambitos.
Era mesmo um cabrito,
Saindo da bolsa a berrar,
Amparado no instinto de erguer sem andar,
Olhando absorto para o infinito.
E o Sol vai mostrando sua cara,
Eu ali, diante das barras da saia,
Bem no quarto ou no meio da sala,
Que minha mãe foi unguento, apoio e nata.
Mas o tempo me fez mais erétil,
Quando a felicidade era andar,
Já não mais como um réptil,
Era a mosca indo varejar.
E o quatro se cansa do quarto,
Os cabelos crescem, já vejo os cachos,
Já passaram o janeiro como um facho,
Foi o Halley bem rápido e sem embaraço.
Agora, já estando de pé,
Suspendi minhas mãos que estavam no solo,
Sou feliz enquanto o dia permite,
E se não permite ainda tenho a fé,
Pra subir a montanha, além do sopé.
Vou abrindo as clareiras que acho adiante,
Com vontade de ver tudo logo agora,
Pois o mundo é bem grande,
E eu só tenho um relógio,
Sem ponteiros e horário, ó minha senhora.
Eu só vejo a imagem,
Ao sair da garagem,
Eram quase dez horas,
E eu preciso seguir.
Esquecendo a infância arrastada no chão,
Sem poder ter ao lado mulher e irmãos,
Ao crescer me juntei à justa manada,
Pela invernada de dor,
Mas querendo a paixão.
Já passa do meio dia,
E o almoço já foi,
Eu só quero alegria,
E a siesta depois.
E a tarde me chega logo agora,
Sentindo o fardo que a vida me dá,
Não há sobremesa, são três da tarde,
E as costas me ardem, por isso eu choro.
Eram mil os lugares que vi pela vida,
Sem muita ternura ou guarita depois,
Trançando as vias, sentido a ferida,
Eu queria sorrir, mas o tempo já foi.
E eu chego no final da tarde,
Vejo a noite e já foi a metade,
E meus pés já me ardem o calo que dói,
Que exigem um cajado e muita coragem,
Pra seguir a viagem, vou como um boi.
E vem os tempos de contemplação,
Pois agora sou ancião esperando a hora,
Já não ando sozinho por onde sigo,
Nos caminhos de outrora, sem mel nem abrigo,
Eu aguardo o tempo só em oração.
E o negrume da noite funesta me mostra,
Não tem mais a festa, já foi o cantor,
Só gemidos e dor eu sussurro à beça,
Sob a luz da promessa, meu Deus é consolo.
Agora ando escorado na vida,
Como fera ferida sem poder sonhar,
O clube encerra a festa na hora,
Sou um rio descendo, já vendo o mar!
E a esfinge me lembra o enigma da vida,
Pois usei o quatro, o dois e o três,
Sem pensar que no fim eu preciso do quatro,
Já não sei se sou homem ou rebento outra vez.
Publicada no Facebook em 13/09/2019
Poeta Braga Costa
Enviado por Poeta Braga Costa em 10/04/2020